Uma das primeiras obras de Honoré de Balzac, um ensaio ferino, provocador e hilário sobre o casamento nas classes ricas e ociosas da França do começo do século XIX.
Lançado em Paris em 1829, sob pena de “um jovem solteiro”, Fisiologia do Casamento alcança o escândalo e o sucesso comercial. É a obra que lançará as bases de sua Comédia Humana.
Já não podemos rir do governo, meus amigos, desde que ele encontrou um meio de levantar mil e quinhentos milhões de impostos. (...) Portanto, na época presente, em França, só resta o casamento como assunto visível.
Portanto, na época presente, em França, só resta o casamento como assunto visível.
Descrevendo cinicamente a instituição do casamento como um empreendimento fadado ao fracasso, Balzac aventura-se em dissecar a fisiologia das relações conjugais, com casos anedóticos, reflexões históricas e filosóficas, aguda observação psicológica e muito humor. Dividindo o livro em diversas Meditações por temas, Balzac faz em Fisiologia do Casamento uma espécie de manual de fidelidade conjugal — cartilha para um objetivo inatingível, mas ainda assim, com preceitos práticos.
A experiência demonstra que existem certas classes de homens mais sujeitas do que outras a certas desgraças: assim, do mesmo modo que os gascões são exagerados, os parisienses são vaidosos; como se vê a apoplexia atacar as pessoas de pescoço curto, como o carvão (espécie de peste) dá de preferência nos carniceiros, a gota nos ricos, a saúde nos pobres, a surdez nos reis, a paralisia nos administradores, tem-se notado que certas classes de maridos são mais particularmente vítimas das paixões ilícitas.
Embora se descreva como fisiologista, Balzac, aqui, é muito mais um patologista da infidelidade: debrida as feridas, drena o pus, expõe o abscesso e receita os mais pungentes remédios — não só metaforicamente, como literalmente. A Meditação sobre a Higiene oferece as mais absurdas e hilárias prescrições médicas e alimentares para afastar ou mitigar o mal da infidelidade. Mas tudo em vão. Balzac passa da vacina para o fármaco, do fármaco para a cirurgia, e da cirurgia para o analgésico. Ainda que tudo seja em vão, é um livro alegre e divertido; apesar de toda sátira, de todo cinismo, Balzac recusa-se ao papel de coveiro do casamento.
A palavra amor, quando aplicada à reprodução da espécie, é a mais odiosa blasfêmia que os costumes modernos têm ensinado a proferir.
Resgatando a clássica tradução de Hardínio Lopes, em uma versão revisada e atualizada, a Editora 93 orgulha-se de trazer novamente ao mercado nacional essa grande obra pouco conhecida.
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