O romance precursor da literatura regionalista gaúcha
Uma grande elegia aos pagos gaúchos. É entre a magnífica descrição das enregeladas campanhas de Vacaria que vamos conhecer José de Avençal, o Vaqueano; homem que conhece cada palmo dos pampas gaúchos, e conhecendo todos os atalhos, todas as sendas, guia Giuseppe Garibaldi, Bento Gonçalves e David Canabarro rumo a Laguna. Com a Revolução Farroupilha de fundo, temos uma história de amor e vingança, protagonizado pelo vaqueano, um homem circunspecto, soturno, traquejado na cavalgada, na caça e na peleja, marcado por uma tragédia em seu passado, assombrado pelo clamor de vingança em conflito com o amor de sua vida.
José de Avençal! Quem então o não conheceu, não por semelhante nome, mas pelo de Vaqueano, que vinha da profissão? Era uma natureza admirável, não tanto pelas amplas manifestações dos músculos de ferro, como pela perícia e inteligência com que guiava os exércitos da República, e a grandeza e bondade do caráter. Também jamais houvera rio-grandense que, como ele, conhecesse a Província. Não lhe escapava uma jeira de terra, ainda mesmo perdida nos ínvios sertões ou em banhados de largo perímetro. Tinha a memória fiel até para as nugas locais. Era uma verdadeira vocação. Seu calendário de nomes abraçava do capão sumido na campina à restinga do mato ou arroio de exíguos cabedais. Constituía de per si o mais exato arquivo topográfico, um mapa vivo e pitoresco.
O Vaqueano é a obra-prima de Apolinário Porto-Alegre (1844 1944), escritor, historiador, poeta, jornalista, republicano, abolicionista. Originalmente publicada em 1872 e que a Editora 93 orgulhosamente reedita, é a primeira obra a dar origem ao regionalismo gaúcho na literatura brasileira. O romance é marcado pelas descrições líricas das paisagens e a acuidade no retrato dos tipos humanos que compõem o povo gaúcho, em seus costumes, tradições e linguagem.
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